A importância da adesão do paciente ao plano de manutenção para garantir o sucesso a longo prazo de dentes e implantes

Matéria da semana - Letícia Sandoli e Márcio Casati

A importância da adesão do paciente ao plano de manutenção para garantir o sucesso a longo prazo de dentes e implantes

Por Letícia Sandoli Arroteia e Márcio Casati

Os implantes dentários são soluções comumente utilizadas no dia a dia clínico para reabilitar pacientes com perdas dentárias, viabilizando a manutenção da função mastigatória e estética destes pacientes. Porém, em pacientes com doença periodontal, é necessário que seja realizada terapia periodontal, associada ao acompanhamento de longo prazo, para a permanência dos tecidos peri-implantares saudáveis, garantindo o sucesso das reabilitações implantossuportadas.

A doença periodontal e as doenças peri-implantares (mucosite e peri-implantite) são condições crônicas que demandam atenção contínua mesmo após a finalização da terapia periodontal (Heitz-Mayfield & Salvi, 2018). O monitoramento regular permite a detecção precoce de problemas, como inflamação ou perda óssea, possibilitando intervenções imediatas e minimizando danos futuros (Herrera et al., 2023).

Além disso, a manutenção de uma higiene bucal adequada, tanto ao redor dos dentes quanto dos implantes, é fundamental para prevenir o acúmulo de biofilme, principal fator etiológico dessas condições. O acompanhamento profissional, combinado com instruções de higiene domiciliar adequadas, promovem a estabilidade das estruturas ao redor dos dentes e implantes, garantindo que eles permaneçam em perfeita harmonia, uma vez que casos de perdas de próteses suportadas por implantes são cada vez mais frequentes (Herrera et al., 2023).

Outro aspecto relevante é o controle de fatores sistêmicos, como diabetes e tabagismo, que podem influenciar negativamente a saúde periodontal e peri-implantar. O acompanhamento periódico permite ajustar o tratamento conforme a evolução das condições de saúde do paciente (Schwarz et al., 2018).

Portanto, o sucesso da terapia periodontal e peri-implantar está diretamente relacionado ao comprometimento com o acompanhamento de longo prazo, assegurando a longevidade dos dentes naturais e implantes em um ambiente saudável e funcional.Portanto, o sucesso da terapia periodontal e peri-implantar está diretamente relacionado ao comprometimento com o acompanhamento de longo prazo, assegurando a longevidade dos dentes naturais e implantes em um ambiente saudável e funcional.

A nossa proposta é relatar o caso clínico de uma paciente de 63 anos, que procurou a faculdade em 2016 para atendimento odontológico, com queixa de mobilidade em alguns dentes, sangramento gengival e alguns espaços edêntulos. O exame radiográfico inicial indicou perda óssea generalizada, predominantemente do tipo horizontal, e alguns dentes com provável envolvimento de lesões de bifurcação (Figura 1).

Figura 1 – Radiografias periapicais de boca toda para avaliar condição inicial (2016).

A paciente passou incialmente por tratamento periodontal não cirúrgico previamente à colocação de implantes dentais e reabilitação protética. Para este tratamento, optamos pelo uso de implantes curtos e estreitos em regiões com pouco altura/espessura óssea. Ainda foi utilizada a opção de prótese parcial fixa implantossuportada em cantilever distal, visando evitar procedimentos mais invasivos em região de seio maxilar. Vale ressaltar que embora alguns dentes foram indicados para exodontia, devido a impossibilidade restauradora, a maior parte dos dentes foram passíveis de manutenção. Isto é possível devido a alta previsibilidade da terapia periodontal no que se refere a manutenção de dentes em função, mesmo na presença de significativa perda de inserção.

Após a reabilitação implantossuportada, a paciente foi inserida em terapia periodontal de suporte com retornos regulares visando diagnóstico de infecção periodontal/peri-implantar, prevenção destas condições e tratamento precoce em casos de recidiva da doença periodontal e início de doença peri-implantar. Neste sentido, Herrera et al. (2023) preconizam que a prevenção de doenças peri-implantares deve começar quando os implantes dentários são planejados, colocados cirurgicamente e carregados protéticamente.

Esta abordagem permitiu, em 2018, o diagnóstico de doença peri-implantar no implante colocado na região do dente 36 e, posteriormente ao tratamento desta condição, pode-se observar a estabilidade do nível ósseo nos acompanhamentos radiográficos nos anos de 2021 e 2023.

Figura 2 – Radiografias periapicais e interproximais de acompanhamento de boca toda da paciente (2018).
Figura 3 – Radiografias periapicais e interproximais de acompanhamento de boca toda da paciente (2021).
Figura 4 – Radiografias periapicais e interproximais de acompanhamento de boca toda da paciente (2023).

O acompanhamento longitudinal desta paciente ilustra a possibilidade de manutenção de dentes, mesmo com suporte periodontal reduzido, associada a reabilitação implantossuportada. Neste tipo de abordagem, a terapia periodontal age de forma sinérgica à reabilitação implantossuportada, garantindo o sucesso do tratamento reabilitador, desde que os pacientes realizem controles periódicos.

Importante mencionar que em muitos pacientes com perfil odontológico semelhante, a opção por exodontias generalizadas e reabilitação fixa do tipo protocolo poderia ser indicada como primeira opção de tratamento por muitos colegas. Muito provavelmente, trazendo dificuldade extrema de controle de biofilme peri-implantar, agente etiológico das doenças peri-implantares. Neste sentido, é de suma importância lembrar que reabilitações implantossuportadas são ótimas opções para dentes perdidos, ou sem condição de manutenção após terapias conservadoras.

Implantes dentais são diferentes de dentes. Além de diferenças clínicas óbvias, existem diferenças já em nível histológico, a interface tecido conjuntivo-implante não possui uma fixação fibrosa e as fibras de colágeno nesta zona da mucosa peri-implantar são alinhadas paralelamente ao eixo longo do implante. Além disso, a densidade dos vasos sanguíneos no tecido conjuntivo supracrestal da mucosa peri-implantar é menor do que no compartimento de tecido correspondente nos dentes (Berglundh et al., 1994).

Este caso evidencia que, com manutenção periodontal regular e adequada, é possível manter dentes com suporte reduzido e reabilitar o paciente com histórico de doença periodontal com implantes de forma estável e funcional. Para isso, é fundamental a adesão do paciente ao plano de manutenção para garantir o sucesso a longo prazo tanto dos dentes quanto dos implantes.

REFERÊNCIAS:

1- Berglundh, T., Lindhe, J., Jonsson, K. and Ericsson, I. (1994), The topography of the vascular systems in the periodontal and peri-implant tissues in the dog. Journal of Clinical Periodontology, 21: 189-193. https://doi.org/10.1111/j.1600-051X.1994.tb00302.x

2- Heitz-Mayfield LJA, Salvi GE. Peri-implant mucositis. J Clin Periodontol. 2018; 45(Suppl 20): S237-S245. https://doi.org/10.1111/jcpe.12953

3- Herrera D, Berglundh T, Schwarz F, Chapple I, Jepsen S, Sculean A, Kebschull M, Papapanou PN, Tonetti MS, Sanz M; EFP workshop participants and methodological consultant. Prevention and treatment of peri-implant diseases-The EFP S3 level clinical practice guideline. J Clin Periodontol. 2023 Jun;50 Suppl 26:4-76. doi: 10.1111/jcpe.13823. Epub 2023 Jun 4. PMID: 37271498.

4- Schwarz F, Derks J, Monje A, Wang H-L. Peri-implantitis. J Clin Periodontol. 2018; 45(Suppl 20): S246-S266. https://doi.org/10.1111/jcpe.12954