Por Marco Aurelio Bianchini
Esta semana começou bastante triste para a Odontologia brasileira e, mais especificamente, para a Implantodontia – Implantologia, como ele gostava de falar. O cirurgião-dentista, implantologista e fundador da Implacil De Bortoli, Dr Nilton De Bortoli, nos deixou depois de 93 anos de vida. Aproximadamente 700 pessoas passaram pelo velório para se despedir do Niltão e celebrar a sua trajetória na família, no trabalho e nas amizades que conquistou. Niltão costumava sempre dizer: “eu quero ter um milhão de amigos.”.
Falar do Niltão é sempre uma alegria e também uma honra muito grande. Nossa convivência e amizade se iniciou em 2012, quando entrei para o quadro de consultor científico da Implacil De Bortoli e durou até a data da sua partida, no início desta semana. Em 2019, tive a oportunidade de escrever a biografia do Niltão, “Meu Nome é Implante – a biografia do Dr. Nilton De Bortoli”. Foi a maior experiência acadêmica que tive em toda a minha vida. Aprendi muito sobre vida familiar, estudo, trabalho árduo e empreendedorismo. Estes quatro pilares nortearam toda a vida do Niltão.
O primeiro contato mais próximo que tive com o Niltão foi no ano de 2012, quando a Implacil De Bortoli realizou o seu primeiro Meeting. Eu estava sentado na primeira fila do auditório, bem ao lado do Niltão, assistindo uma palestra do meu amigo, o Dr. Sérgio Jayme, que apresentava um caso clínico de mais de 40 anos, com implantes convencionais Justaósseos (subperiostais), feitos pelo Niltão. Na verdade, a paciente procurou o consultório do Dr. Sérgio Jayme apenas para trocar a prótese que estava desgastada, os implantes não apresentavam problemas.
O Dr. Sérgio Jayme mostrou todas as imagens clínicas e radiográficas do caso, onde pudemos constatar a saúde dos implantes, porém com um desgaste muito grande da dimensão vertical. O Dr. Sérgio mostrou o caso concluído, com uma nova prótese e a dimensão vertical recuperada. O Niltão virou para mim e cochichou no meu ouvido: “vai acabar com meus implantes mexendo tanto assim na oclusão.”. Eu quase me engasguei e fiquei perplexo. Não sabia se ria ou concordava. A partir daí, eu comecei a conhecer melhor este homem que, de uma maneira simples e humilde, demonstrava um conhecimento técnico exorbitante.
Os anos foram passando e o meu trabalho de consultor científico da Implacil De Bortoli, associado a grande amizade que desenvolvi com a família, me levaram a escrever a biografia do Niltão. Assim, no início do ano de 2019, eu comecei a me reunir com o Niltão ao vivo, para que ele me contasse toda a sua trajetória, não só na Odontologia, mas na vida pessoal também. Foram horas de conversas sensacionais, onde demos muitas risadas, mas também derramamos algumas lágrimas.
Ouvir diretamente do Niltão toda a sua história, contada de uma maneira simples e direta foi sensacional. Eu ficava vidrado nos acontecimentos. Era como se eu estivesse lendo um livro de história do Brasil e da Implantodontia. Contudo, o que mais me fascinava era o seu compromisso em viver uma vida plena, onde o trabalho era o seu alicerce para dar conforto a família e fazer amigos. Em tudo isso ele era muito grato a Deus, ao qual creditava as bênçãos pelo seu sucesso.
A primeira pergunta que eu fiz ao Niltão, quando comecei a escrever a sua biografia foi: “e aí, Dr Nilton, valeu a pena tudo isso?”. Ele prontamente me respondeu: “Ah, Bianchini…valeu muito. Eu faria tudo de novo.”. Esta resposta dava o tom do que foi a vida do Niltão. Poucas pessoas no mundo olham para trás com tanta convicção de que tinham feito a coisa certa. Niltão foi uma dessas pessoas e o seu legado vai se refletir não só na sua família, mas também nos seus um milhão de amigos, que ele gostava de dizer que tinha.
Todos nós ficamos tristes com a partida do Niltão. Não há como não se entristecer e chorar quando se sabe que não iremos mais ver aquela pessoa neste mundo em que estamos vivendo. Contudo, como disse o apóstolo Paulo em Filipenses 4:4: “Alegrai-vos sempre no Senhor, repito: Alegrai-vos!”. Assim, devemos nos alegrar pela vida plena e longa que o Niltão teve e, sobretudo, pelo legado que ele nos deixou. Sem falar ainda que o Niltão era uma pessoa muito alegre e divertida, com uma alegria e gentileza que contagiava a todos.
Esta alegria dele se traduziu em um episódio que ocorreu comigo e com o Dr. Sergio Abraham, quando estávamos conversando com o Niltão no estande da Implacil De Bortoli, em um congresso de Implantodontia. As pessoas paravam o tempo todo e pediam para bater fotos com ele. Depois de algumas dessas fotos, o Niltão virou para nós e soltou essa pérola: “Eles pedem para bater fotos comigo não é só porque eu sou conhecido, mas é porque acham que logo eu vou morrer e que este vai ser o meu último congresso.”.A nossa gargalhada foi intensa, com o Niltão rindo muito também. Era ele brincando com a única certeza que todos nós temos na vida: a nossa morte.
Valeu, Niltão querido! Obrigado por tudo, meu grande amigo! Vou sentir muitas saudades das nossas conversas. Obrigado pelos relatos históricos, pelos ensinamentos, pelos conselhos e pela família maravilhosa que você deixou. Obrigado também por eu estar na única foto do seu escritório particular. Seus filhos Mario Sergio, Mara e Nilton Júnior, juntamente com os netos, estão levando adiante os seus preceitos. Você conseguiu Niltão: com certeza somos mais de um milhão de amigos seus. Um dia nos encontraremos no céu, com as bênçãos de Jesus.