Por Andressa Maximino, Murillo de Almeida Saraiva, Simone Silva Santos, Bruno Costa Martins de Sá, Tárcio Hiroshi Ishimine Skiba.
INTRODUÇÃO
Para alcançar o sucesso estético/funcional durante as reabilitações com implantes, são necessários alguns fatores primordiais. Dentre eles, encontra-se a confecção do perfil de emergência, cuja definição é o contorno do tecido gengival peri-implantar. Tal perfil pode ser alcançado através de um dente provisório ou cicatrizador personalizado, em que é possível modelar as zonas críticas e subcríticas. Quando isso é bem realizado, leva a resultados estético/funcionais mais próximos de um dente natural (QUESADA, Gustavo Adolfo Terra et al. 2014; Gomez-Meda, Ramon et al 2021).
Existem alguns meios de transferir o perfil de emergência criado. Alguns deles envolvem resinas fluidas, silicones de adição e até mesmo escaneamento utilizando transfers digitais. Uma das dificuldades encontradas durante a moldagem e/ou escaneamento está na velocidade a qual os tecidos moles tendem a sofrer alteração, o que pode levar a uma falha de comunicação entre o CD e o laboratório de prótese dental (LPD) e a desadaptações pela divergência do perfil de emergencia transferido para o real em boca com o provisório ou cicatrizador personalizado instalado. (Azer, Shereen S. 2010;).
Em moldagens analógicas, faz-se necessário sempre realizar a personalização dos tranferentes através da cópia das zonas críticas e subcríticas do provisório ou cicatrizador personalizado com material rígido, para em seguida levar em boca para a moldagem de arrasto sem distorções.
Com os avanços atuais da tecnologia, sabe-se que os scanners intraorais podem se tornar grandes auxiliares na comunicação entre CD e LPD, principalmente quando se trata de reabilitações estéticas e perfil de emergência natural, visto que após o escaneamento bem executado, pode ser enviado diretamente ao laboratório sem sofrer alterações. (BARROS, Matheus Nicolau Matos, 2021).
O objetivo deste artigo é relatar um caso no qual foi feito o escaneamento de cicatrizador personalizado e confecção de cerâmica definitiva em fluxo 100% digital.
RELATO DO CASO
O paciente AMF compareceu ao consultório para a reabilitação do dente 46. Imediatamente à instalação do implante, foi confeccionado um cicatrizador personalizado utilizando um pilar provisório CM (Implacil De Bortoli), conforme Figura 1.
Após o período de osseointegração e estabilização do perfil de emergência (Figura 2), foi realizado o escaneamento das arcadas utilizando o iTero com o intuito de capturar ambas as arcadas, sendo o cicatrizador personalizado em posição e o registro de oclusão previamente à colocação do transferente digital, uma vez que o mesmo não permitiria o adequado registro de oclusão por falta de espaço interoclusal. (Figuras 3 e 4)
Após o primeiro escaneamento, foi removido o cicatrizador personalizado através de chave extratora (Implacil De Bortoli), conforme Figura 5, ficando exposto o implante e o perfil de emergência, como vemos na Figura 6.
Logo em seguida à remoção do cicatrizador, foi colocado um transfer digital CM AR (Implacil De Bortoli) para a realização de um novo escaneamento (Figuras 7 e 8), com o objetivo de obter o posicionamento do implante. O mesmo carrega o perfil de emergência distorcido, uma vez que imediatamente à remoção do cicatrizador personalizado, a mucosa peri-implantar tende a sofrer deformações.
Após os dois escaneamentos intraorais serem feitos, foi realizado mais um escaneamento, desta vez com o intuito de copiar o cicatrizador personalizado completamente (Figura 9). Após este escaneamento, o cicatrizador foi reinstalado para aguardar a confecção da cerâmica definitiva.
Os três escaneamentos obtidos foram enviados ao laboratório (Rama – Prótese Dentária / Porto Velho – RO). Este, por sua vez, uniu as três malhas para obter o formato do perfil de emergência ideal, com cópia em proporções reais das zonas críticas e subcríticas do cicatrizador personalizado transferidos para a coroa definitiva a ser transformada de seu desenho digital CAD (Computer Aided Design) para o CAM (Computer Aided Manufacturing) por manufatura 3D redutiva (fresagem), como podemos ver na Figura 10.
A coroa foi confeccionada em zircônia monolítica, cimentada fora da boca sobre o pilar Base T (Implacil De Bortoli), conforme Figura 11, e foi finalizada em boca, sem provas prévias, como vemos na Figura 12.
DISCUSSÃO
Lee, Sang J et al. (2015) diz que o escaneamento digital possui grande influência e viabilidade em reabilitações implantossuportadas. No resultado de sua pesquisa, ele afirma que os modelos feitos a partir do escaneamento possuem precisão comparável aos modelos de gesso convencionais.
Gan N, Xiong Y, Jiao T (2016) relatam que a utilização do scanner intraoral possui maior precisão em comparação com as moldagens convencionais, tornando-os viáveis para reabilitações grandes. Mas que para arcos atrésicos ou scanners maiores, podem apresentar imprecisões ou dificuldades do escaneamento.
Bandiaky, Octave Nadile et al. (2022) concluiu que as técnicas de escaneamento digital são comparáveis às moldagens convencionais em termos de tempo clínico e adaptação marginal. Além disso, são mais confortáveis em comparação que as técnicas convencionais para os pacientes.
Manicone, Paolo Francesco et al. (2022) afirma que os scanners tiveram um avanço significativo e são vantajosos para a Odontologia. O scanner também é considerado tão eficiente em termos de tempo, precisão e conveniência quanto uma moldagem convencional, principalmente em se tratando de reabilitações com implantes.
Ruales-Carrera, Edwin et al. (2019) declaram que nem sempre os implantes com carga imediata são possíveis de realizar ou devidamente indicados, e, nestes casos, devem ser realizados utilizando cicatrizadores personalizados. Estes, quando bem feitos, preservam o contorno do tecido mole, e muitas vezes, evitam uma segunda cirurgia para reabertura e uso prolongado de provisórios para condicionar o contorno gengival. Também concluiu que a técnica com cicatrizador personalizado permite um perfil de emergência mais natural em comparação com perfis de emergências não modelados.
Menchini-Fabris, Giovanni-Battista et al. (2020) fizeram um estudo comparativo de três anos após a instalação de implantes com cicatrizadores normais e cicatrizadores personalizados. Os resultados foram significativos, pois após a colocação do implante, foram registradas perdas horizontais para ambos os grupos convencional e personalizado, sendo 2,2 (1,1) e 0,2 (0,7) mm, respectivamente. A perda de largura óssea estava presente, do incisivo ao pré-molar, entre 0,2 e 0,4 mm no grupo personalizado, enquanto o grupo convencional sofreu uma perda óssea significativa, variando de 1,6 a 3,0 mm.
Chokaree, Parima et al. (2022) diz que cicatrizadores personalizados podem ser fabricados de materiais como PEEK, PMMA, zircônia, compósito de resina e titânio. Todos podem ser usados tanto de forma imediata quanto de forma tardia. A escolha do material afeta os tecidos peri-implantares, sejam de forma mecânica e/ou biológica. Todos os materiais usados apresentaram resultados promissores, no entanto, são necessárias investigações adicionais comparando os efeitos de cada material nos tecidos moles e duros peri-implantares.
CONCLUSÃO
A utilização do fluxo digital permite uma finalização protética rápida, prática e fiel em reabilitações implanto-suportadas.
REFERÊNCIAS:
- Azer, Shereen S. “A simplified technique for creating a customized gingival emergence profile for implant-supported crowns.” Journal of prosthodontics : official journal of the American College of Prosthodontists vol. 19,6 (2010): 497-501. doi:10.1111/j.1532-849X.2010.00604.x
- Bandiaky, Octave Nadile et al. “Comparative assessment of complete-coverage, fixed tooth-supported prostheses fabricated from digital scans or conventional impressions: A systematic review and meta-analysis.” The Journal of prosthetic dentistry vol. 127,1 (2022): 71-79. doi:10.1016/j.prosdent.2020.09.017
- BARROS, Matheus Nicolau Matos. “Transferência digital do perfil de emergência em prótese sobre implante: um relato de caso.” (2021).
- Chokaree, Parima et al. “Biomaterials and Clinical Applications of Customized Healing Abutment-A Narrative Review.” Journal of functional biomaterials vol. 13,4 291. 10 Dec. 2022, doi:10.3390/jfb13040291
- Gan N, Xiong Y, Jiao T (2016) Accuracy of Intraoral Digital Impressions for Whole Upper Jaws, Including Full Dentitions and Palatal Soft Tissues. PLoS ONE 11(7): e0158800. doi:10.1371/journal. pone.0158800
- Gomez-Meda, Ramon et al. “The esthetic biological contour concept for implant restoration emergence profile design.” Journal of esthetic and restorative dentistry : official publication of the American Academy of Esthetic Dentistry … [et al.] vol. 33,1 (2021): 173-184. doi:10.1111/jerd.12714
- Lee, Sang J et al. “Accuracy of digital versus conventional implant impressions.” Clinical oral implants research vol. 26,6 (2015): 715-9. doi:10.1111/clr.12375
- “Patient preference and clinical working time between digital scanning and conventional impression making for implant-supported prostheses: A systematic review and meta-analysis.” The Journal of prosthetic dentistry vol. 128,4 (2022): 589-596. doi:10.1016/j.prosdent.2020.11.042
- Menchini-Fabris, Giovanni-Battista et al. “A 3-year retrospective study of fresh socket implants: CAD/CAM customized healing abutment vs cover screws.” International journal of computerized dentistry vol. 23,2 (2020): 109-117.
- QUESADA, Gustavo Adolfo Terra et al. Condicionamento gengival visando o perfil de emergência em prótese sobre implante. Saúde (Santa Maria), p. 9-18, 2014.
- Ruales-Carrera, Edwin et al. “Peri-implant tissue management after immediate implant placement using a customized healing abutment.” Journal of esthetic and restorative dentistry: official publication of the American Academy of Esthetic Dentistry … [et al.] vol. 31,6 (2019): 533-541. doi:10.1111/jerd.12512