Implante transinusal Due Cone – relato de caso clínico.

Matéria da semana 28-08-23 - Rogério de Lima Romeiro

Implante transinusal Due Cone – relato de caso clínico.

Por Rogério de Lima Romeiro

Resumo

A reabsorção óssea é uma consequência comum após as perdas dentárias. Em regiões posteriores de maxila, ocorre com frequência a reabsorção vertical por pneumatização do seio maxilar, resultando em maxilas atróficas e dificultando a reabilitação com implantes dentários.

Atualmente, a técnica Sinus Lift, utilizando biomateriais autógenos ou xenógenos, é uma ótima alternativa para reconstruir estes tipos de imperfeições ósseas, visando a futura instalação de implantes.

A nova abordagem utilizada em cirurgias inovadoras é a ancoragem de implantes extra longos por meio da transfixação sinusal, favorecendo a carga imediata, reduzindo etapas cirúrgicas e evitando áreas desvantajosas de perda óssea maxilar. No caso clínico relatado a seguir, foram realizadas as etapas cirúrgicas para a transfixação sinusal desde a cirurgia de levantamento de seio maxilar até a instalação do implante extra longo entre as regiões da cortical anterior do seio maxilar e a parede da cavidade nasal. Conclui-se que o uso dessa nova técnica possibilitou a cirurgia em apenas uma etapa, portanto, menos agressiva, favorecendo o prognóstico e sendo uma alternativa para a reabilitação de maxila atrófica.

Introdução

O implante zigomático é uma grande alternativa para reabilitar maxilas muito atróficas onde implantes inclinados e o approach palatino não estão indicados1,2. Contudo, em situações de atrofia onde é possível instalar implantes na região anterior, a pneumatização extensa do seio impede a correta instalação de implantes inclinados, e, neste caso, os implantes transinusais longos aparecem como alternativa3,4,5.

Agliardi et al. (2010) relataram a técnica de implantes transinusais utilizando implantes convencionais5. Ao invés de tangenciar a parede anterior do seio, como na técnica All-on-Four original, é realizada a elevação da porção anterior da membrana e o implante atravessa o seio com a membrana descolada e, posteriormente, ancora sua porção apical próximo à cortical nasal6,7. O problema é que implantes convencionais não permitem uma ancoragem muito posterior desse implante. Carvalho et al. (2016) propuseram a técnica de implantes transinusais longos, utilizando implantes de plataforma regular e comprimentos de 20, 22 ou 24 mm8. Desta maneira, tornou-se possível uma ancoragem próxima ao primeiro molar. A técnica, então, prevê também a abertura da janela do seio, descolamento da membrana sinusal de sua porção mais anterior para posterior, ancoragem da porção cervical do implante na região alveolar, transfixação da região anterior do seio, ancoragem na cortical nasal, e posterior preenchimento da porção decolada com biomaterial8.

Devido a possibilidade de obter uma grande estabilidade primária em função da ancoragem em várias corticais, muitas vezes, é possível ainda a realização de carga imediata. É uma técnica mais simples, comparada às fixações zigomáticas e reconstruções ósseas extensas e permite muitas vezes uma resolução protética rápida, sem os inconvenientes das fixações zigomáticas9.

Relato de caso clínico

Paciente apresentou-se no consultório com ausência dos elementos dentais superiores e inferiores, buscando reabilitação com implantes dentários. Durante os exames clínicos e laboratoriais, não foram observadas contraindicações locais ou sistêmicas para realizar o procedimento. Após a análise da tomografia, foi observado extensa reabsorção óssea anterior e grande pneumatização do seio maxilar (Figura 1).

Figura 1 – Tomografia Computadorizada Cone Beam da maxila.

Após planejamento do caso, foi proposto e aceito pelo paciente a realização da reabilitação da maxila com quatro implantes, sendo dois implantes convencionais e dois transinusais. A publicação do caso foi autorizada mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Posteriormente à anestesia da maxila, foi realizado um retalho total e a janela lateral para acesso à parede anterior do seio (Figuras 2, 3 e 4). Após a osteotomia, a membrana foi cuidadosamente descolada no sentido anteroposterior.

Inicialmente foram realizadas as osteotomias anteriores para a instalação de dois implantes Due Cone (Implacil De Bortoli) de 3,5 mm de diâmetro por 11 mm de comprimento nas regiões próximas aos dentes 12 e 22.

Figura 2 – Aspecto clínico inicial.
Figura 3 – Osteotomia da parede anterior do seio maxilar.
Figura 4 – Descolamento da membrana sinusal e perfuração dos implantes.

Logo após, as osteotomias transinusais foram realizadas. As fresas iniciam-se na região dos primeiros molares, atravessam a cavidade sinusal em sua porção mais anterior e ancoram seu ápice na cortical nasal. Para isso, foram selecionados dois implantes Due Cone de 3,5 mm de diâmetro por 17 mm de comprimento. Foi utilizado também o kit de fresagem convencional da Implacil de Bortoli para perfuração e instalação dos implantes anteriores e a adaptação das fresas do Kit Implaguide da mesma empresa para o preparo do leito dos implantes transinusais (Figuras 5, 6 e 7).

Figura 5 – Implantes Due Cone anteriores instalados e implante transinusal do lado esquerdo.
Figura 6 – Implantes Due Cone de 17 mm de comprimento transinusais instalados do lado esquerdo.
Figura 7 – Quatro implantes instalados e o preenchimento da janela óssea com biomaterial.

Conclusão

A reabilitação de maxilas atróficas através dos implantes extras longos transinusais possibilitou uma única sessão cirúrgica, menos agressiva, e um prognóstico favorável com resultado satisfatório, retratando uma nova alternativa para a reabilitação de maxilas atróficas. Nesta cirurgia, pelo implante ter sido inserido em boa qualidade óssea, mostrou excelente fixação óssea, conseguindo eliminar várias etapas cirúrgicas.

REFERÊNCIAS

1- Ferrara ED, Stella JP. Restoration of the edentulous maxilla: the case for the zygomatic implants. J Oral Maxillofac Surg. 2004 Nov;62(11):1418-22.

2- Tettamanti L, Andrisani C, Bassi MA, Vinci R, Silvestre-Rangil J, Tagliabue A. Immediate loading implants: review of the critical aspects. Oral Implantol (Rome). 2017 Sep 27;10(2):129-139.

3- Maló P, Rangert B, Nobre M. “All-on-Four” immediate-function concept with Brånemark System implants for completely edentulous mandibles: a retrospective clinical study. Clin Implant Dent Relat Res. 2003;5.

4- Krekmanov L, Kahn M, Rangert B, Lindström H. Tilting of posterior mandibular and maxillary implants for improved prosthesis support. Int J Oral Maxillofac Implants. 2000 May-Jun;15(3):405-14.

5- Agliardi E, Clericò M, Ciancio P, Massironi D. Immediate loading of full-arch fixed prostheses supported by axial and tilted implants for the treatment of edentulous atrophic mandibles. Quintessence Int. 2010 Apr;41(4):285-93.

6- Bedrossian E, Stumpel L 3rd, Beckely ML, Indresano T. The zygomatic implant: preliminary data on treatment of severely resorbed maxillae. A clinical report. Int J Oral Maxillofac Implants. 2002 Nov-Dec;17(6):861-5.

7- Romeiro RL, Feitosa PC, Canoas RS, Cunha AC. Implantes zigomáticos x reconstrução de maxila com enxerto de ilíaco? Relato de caso clínico. Periodontia (Fortaleza). 2009, 19:82-8.

8- Carvalho A,  Carvalho LP,  Romeiro RL,  Francischone CE, Sotto-maior, BS, Bezerra F. Nova Proposta Para Reabilitação de Maxila Atrófica: Implante Inclinado Longo. The International Journal Of Oral And Maxillofacial Implants 2017(2):29-35.

9- Gomes ACM, Chad MAB, Mattos JC, Romeiro RL. Transfixação sinusal em maxila atrófica posterior: caso clínico. Revista Eletrônica Funvic 2020, 5(2):15-9.

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