Metodologias para aferir a estabilidade primária e secundária dos implantes osseointegráveis

Matéria da semana - 15-01-2024

Metodologias para aferir a estabilidade primária e secundária dos implantes osseointegráveis

Por José Henrique Cavalcanti Lima

Um dos principais requisitos para a obtenção da osseointegração é a estabilidade inicial que atingimos no momento da instalação dos implantes. Esta estabilidade inicial (estabilidade primária mecânica) permite que as diversas fases envolvidas no processo de osseointegração ocorram adequadamente, desde a primeira interface formada entre o coágulo e a superfície do implante.

Esta ausência de micro movimentos é fundamental para a obtenção dos fenômenos subsequentes, tais como: a substituição do coágulo pela migração dos vasos para o interior da área de cicatrização e chegada de células mesenquimais indiferenciadas. Essas células serão estimuladas com os indutores adequados que estão atuando nessas áreas (fatores de crescimento e diferenciação) e, induzem a transformação em células pré-osteoblásticas, posteriormente osteoblásticas, as quais atuarão simultaneamente com os osteoclastos na reabsorção e neoformação óssea, buscando a estabilidade secundária, biológica.

Após entrar em função, o implante continua e mantém uma atividade moduladora da interface osso/implante de acordo com a força exercida sobre a prótese (estabilidade terciária).

O torque utilizado nos motores cirúrgicos para aferição da estabilidade do implante, estabilidade primária, não pode ser utilizado para aferir a estabilidade secundária e terciária. Desta forma, a perda precoce do implante, muitas vezes, deixa de ter um esclarecimento por não podermos acompanhar a evolução do índice da osseointegração.

No final da década de 1990, tivemos as primeiras publicações de artigos liderados por Lars Sennerby e Neil Meredith, apresentando um instrumento de medição da estabilidade nas diversas fases da osseointegração.

Lennart e Anders Petterson, engenheiros elétricos, foram os responsáveis pela criação e desenvolvimento do aparelho Osstell, que atualmente está na sua quinta versão. Este aparelho utiliza uma medida para indicar a estabilidade: o ISQ – Quociente de Estabilidade do Implante.

Com este equipamento, pode-se ter o acompanhamento da evolução da estabilidade mecânica primária para a estabilidade biológica secundária, inclusive para confirmar o seu carregamento antecipado. O valor ISQ objetivo e numérico é obtido através da irradiação eletromagnética de um SmartPeg, uma peça de alumínio com um imã na ponta, que é aparafusado no hexágono/conexão externa ou hexágono/conexão interna do implante, dependendo do tipo de conexão do implante em questão.

A utilização clínica do Osstell traz grandes benefícios, pois podemos aferir a estabilidade do implante em diferentes fases de cicatrização óssea. A utilização clínica do Osstell após as reabilitações com implantes osseointegráveis permitem avaliar com precocidade lesões peri-implantares com comprometimento ósseo, podendo influenciar na estabilidade e manutenção do implante em função. Podemos também acompanhar o reparo tecidual ósseo após a correção com regeneração óssea guiada de implantes submetidos a tratamentos de peri-implantites.

Como utilizar o Osstell

O Osstell irá auxiliar na tomada de decisão do profissional de realizar uma carga imediata, precoce ou tardia no implante. Sempre realizar a medição logo após a instalação do implante.

Para isso, selecionar o correto SmartPeg para o tipo de implante utilizado.

Com o montador do SmartPeg, aparafusar o SmartPeg com força manual (4-6 Ncm) no implante.

Posicionar a ponta do Osstell próxima da ponta do SmartPeg e realizar a aferição do valor ISQ na direção buco-lingual (BL), e após, na direção mesio-distal (MD).

Deve-se fazer as aferições no ato da instalação do implante, na sua reabertura, e nas revisões clinicas. Estas aferições mostrarão o índice de osseointegração e o seu sucesso a longo prazo.

*Este artigo foi publicado na revista do CRO-RJ em Setembro/Outubro de 2023.

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