Por Ulisses Dayube
Introdução
Tradicionalmente, um dos principais objetivos de um tratamento com implantes é garantir a osseointegração1-4. Por outro lado, a obtenção da osseointegração do implante nem sempre se correlaciona com um resultado estético bem-sucedido5.
No período inicial da Implantodontia, os implantes eram instalados com um “conceito de instalação de implante onde tinha osso”. De acordo com esse conceito, o implante era instalado onde havia uma quantidade suficiente de osso, mas nem sempre era a posição ideal do implante para a restauração implantossuportada.
Portanto, isso resultava em uma prótese sobre implante sem estética e muitas vezes não funcional. Recentemente, com o desenvolvimento de vários materiais de enxerto ósseo, técnicas de regeneração óssea guiada (ROG) e o desenvolvimento da tecnologia de tratamento de superfície dos implantes, o conceito de tratamento com implantes foi alterado para “instalação de implantes orientada pela prótese”6, que é o conceito do planejamento reverso. Consequentemente, há agora uma demanda crescente por próteses e tecido mole peri-implantar com estética, função e saúde.
O perfil de emergência é um dos principais fatores para o estabelecimento de tecidos peri-implantares ideais. Em particular, na zona estética, o perfil de emergência das próteses sobre implante deve imitar os dentes naturais7-8.
Restaurações com contorno inadequado causarão comprometimento do acesso para higiene bucal e inflamação dos tecidos moles peri-implantares, o que pode induzir a muitos insucessos9. Assim, a criação de uma restauração com contorno adequado, com um perfil de emergência natural e arquitetura gengival que se harmonize com os dentes adjacentes é muito importante para a terapia de implante estética e funcional10. Para obter o perfil de emergência ideal, vários fatores precisam ser considerados desde os estágios iniciais do tratamento até os estágios finais. Na presença de uma base de tecido adequada, a obtenção de um perfil de emergência ideal depende da seleção do implante, do pilar de cicatrização e da seleção do componente protético adequado.
O objetivo deste artigo é apresentar um caso clínico de condicionamento peri-implantar por meio da confecção e ajuste de uma coroa provisória sobre implante para produzir o perfil de emergência ideal da coroa definitiva sobre implante.
Relato de caso
Uma paciente de 53 anos de idade, do sexo feminino, apresentou-se necessitandode um implante na região do dente 15 em um rebordo cicatrizado (Figuras 1 e 2).
Após o planejamento virtual no programa Exoplan – Exocad (Figura 3) e confecçãode uma guia cirúrgica prototipada, foi realizada uma cirurgia guiada por computadorImplaguide 3.5/4.0 e instalado um implante Due Cone 3,5x9mm (Figura 4). Foi instalado também um cicatrizador de 3,5×2,5 (Figura 5). Após quatro meses de cicatrização, o implante estava com o cicatrizador aparente na mucosa (Figura 6).
Para fazermos a coroa definitiva, precisamos posicionar a margem gengival semelhante aos dentes adjacentes. Nesse caso, usamos o túnel check de prótese CM para escolha da cinta do pilar (Figura 7). Temos que tomar muito cuidado em saber onde posicionar a margem gengival vestibular da coroa sobre implante, pois quando temos muita espessura de mucosa, a marcação do túnel check pode “confundir” no momento da seleção da cinta do pilar (Figura 8). O pilar de escolha para esse caso foi o Ideale 3.3×4 e foi planejado para ser instalado como uma cinta de 2,5mm, a fim de que a margem da coroa sobre implante fique semelhante à margem dos dentes adjacentes. Então, o pilar Ideale reto 3.3×4 com a cinta de 2,5mm foi instalado (Figura 9) para ser usado como pilar definitivo e fazer uma coroa provisória sobre o implante. A diferença de tamanho entre o diâmetro cervical do dente natural e o encaixe do implante pode resultar em um perfil inadequado da coroa. Se o perfil for subcontornado, não haverá pressão contralateral ou suporte para a mucosa, e as partículas de alimentos podem ficar retidas.
A coroa provisória foi fabricada por impressão 3D para criar os mesmos contornos da face vestibular dos dentes adjacentes (Figura 10). Uma coifa provisória de titânio foi parafusada ao pilar ideale para captura da coroa provisória impressa.
Nesse momento, existia uma grande diferença entre o contorno vestibular da coroa provisória e a posição da margem da mucosa (Figura 11). Então, foi utilizado uma resina flow para a captura da coroa provisória (Figura 12). E posteriormente, foi realizada o acabamento e polimento (Figura 13) para termos um excelente perfil de emergência da coroa (Figura 14).
Após a finalização, os dentes adjacentes foram preparados e também receberam coroas provisórias, e a coroa sobre implante provisória foi parafusada no pilar Ideale (Figura 15) usando uma combinação de pressão digital e apertamento do paciente em um rolo de algodão. A isquemia dos tecidos moles peri-implantares pode ser observada, e geralmente desaparece em até 20 minutos. A coroa sobre implante provisória deve ser deixada por um período mínimo de um mês para permitir o adequado condicionamento dos tecidos moles peri-implantares 11,12 (Figura 16). Foi necessário um exame periódico para garantir que a higiene bucal adequada fosse mantida. Após dois meses, quando a mucosa condicionada se estabilizou 13, foi realizado um escaneamento intraoral (Figura 17) para a confecção das coroas definitivas (Figura 18). As coroas definitivas foram fabricadas fresadas em zircônia pura, e após instaladas (Figura 19), o resultado estético e funcional ficou muito favorável (Figura 20).
Conclusão
O método descrito neste relato de caso permite o desenvolvimento e a manutenção do perfil de emergência e espaço biológico peri-implantar antes da confecção da coroa sobre implante definitiva, proporcionando ao paciente um resultado estético e funcional estável. Portanto, esse método ajudará a melhorar a satisfação do paciente e o prognóstico do implante, especialmente para pacientes com perda de papila interdental ou forma inadequada de tecido mole.
REFERÊNCIAS
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2- Avivi-Arber L, Zarb GA. Clinical effectiveness of implant-supported singletooth replacement: the Toronto Study. Int J Oral Maxillofac Implants. 1996;11:311–321.
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13- Paul SJ, Jovanovic SA. Anterior implant-supported reconstructions: a prosthetic challenge. Pract Periodontics Aesthet Dent. 1999;11:585–590.