Por Thayane Furtado e Felipe Pohlmann
Introdução
A instalação de implantes imediatos em regiões estéticas exige uma abordagem cirúrgica precisa e cuidadosa, especialmente quando o objetivo é manter o contorno ósseo e gengival com previsibilidade. A preservação dos tecidos após a extração dentária representa um dos maiores desafios clínicos em implantodontia contemporânea. Nesses casos, a associação de técnicas minimamente invasivas com biomateriais de alta performance é essencial para promover uma cicatrização controlada e assegurar o sucesso estético e funcional do implante a longo prazo.
Este relato clínico destaca uma abordagem cirúrgica voltada à previsibilidade: uma extração minimamente invasiva seguida de implante imediato e preservação alveolar com o biomaterial Extra Graft XG-13 e a membrana de PTFE Cytoplast. O foco é demonstrar, sob uma perspectiva clínica e técnica, como o uso desses materiais se torna essencial em casos onde não é possível realizar carga imediata com segurança.
Relato de caso e técnica cirúrgica
Paciente jovem, do sexo masculino, sistemicamente saudável, apresentou-se para reabilitação da região do dente 21, perdido devido a uma lesão cariosa extensa e irreversível.
Como etapa inicial foi realizado um planejamento estético digital (Digital Smile Design – DSD), o qual possibilitou avaliar a simetria do sorriso, proporções dentárias e altura gengival. O DSD revelou uma migração coronal do tecido mole na região do 21, evidenciando uma coroa clínica encurtada e reforçando a importância da preservação do contorno gengival e do suporte tecidual para o sucesso da futura reabilitação.
Na sequência, foi realizada uma tomografia computadorizada da maxila, e o planejamento cirúrgico foi conduzido por meio do software Blue Sky Plan, permitindo definir com precisão o posicionamento tridimensional do implante, respeitando estruturas anatômicas e a futura emergência protética.
A intervenção cirúrgica teve início com a exodontia atraumática do dente 21. Inicialmente foi realizada uma coronectomia, seguida da remoção cuidadosa do fragmento radicular, com a preservação integral das tábuas ósseas.
A perfuração inicial para instalação do implante foi realizada com uma broca lança helicoidal, acoplada a prolongador, seguida da verificação do paralelismo com o Túnel Check (Implacil Osstem). Após confirmação do eixo adequado, procedeu-se com a fresagem sequencial com a fresa de 3,0 mm, e nova conferência da angulação foi realizada.
Foi então instalado um implante Due Cone Maestro CM 3,5 x 11 mm (Implacil Osstem), respeitando o posicionamento previamente planejado. A estabilidade primária foi medida com o Osstell, equipamento que utiliza a tecnologia de ressonância magnética para aferir a estabilidade do implante por meio do Implant Stability Quotient (ISQ). Essa métrica fornece uma estimativa objetiva do grau de ancoragem inicial entre o implante e o osso adjacente, sendo um importante parâmetro para indicar ou contraindicar a carga imediata. No presente caso, o valor obtido foi considerado insuficiente, levando à decisão de instalar o tapa-implante e permitir a cicatrização submersa durante o período de osseointegração.
Com o objetivo de preservar o volume ósseo e a morfologia gengival, foi realizada uma regeneração óssea guiada (ROG) com o Extra Graft XG-13 aplicado na região vestibular para preenchimento do GAP entre o implante e a parede óssea. Na sequência, foi colocada uma membrana Cytoplast, em PTFE de alta densidade, adaptada sob o tecido gengival e estabilizada por sutura com nylon azul, promovendo selamento do sítio cirúrgico.
Essa associação de biomateriais — enxerto particulado e membrana não reabsorvível — ofereceu as condições ideais para proteger o implante, preservar o volume tecidual e guiar o processo de regeneração com previsibilidade.
Após dez dias, foi realizada a remoção das suturas, observando-se bom aspecto clínico e ausência de sinais de inflamação. Já no 21º dia, com a cessação da competição tecidual, foi feita a remoção da membrana Cytoplast, de forma simples e segura e sem a necessidade de nova intervenção cirúrgica.
Para preservar a estética durante a fase de osseointegração, foi confeccionado um provisório impresso em 3D, previamente planejado no Exocad. Esse provisório, cimentado com auxílio de aletas adesivas nos dentes 11 e 22, apresentava adaptação passiva e promovia pressão controlada sobre os tecidos moles, favorecendo a manutenção da margem gengival e do perfil de emergência. Além disso, por não exercer carga funcional direta sobre o implante, permitiu uma osseointegração segura, sem interferência de forças mastigatórias durante o período crítico de cicatrização.
Passados seis meses da osseointegração, foi realizada a instalação de um pilar Ideale (Implacil Osstem), com altura transmucosa de 2,5 mm e plataforma de 3,3 x 4 mm, sobre o implante previamente instalado. A partir desse componente, executou-se o escaneamento digital com transferente posicionado diretamente sobre o pilar, possibilitando a confecção de uma coroa provisória fresada em PMMA, parafusada diretamente ao Ideale. Esse provisório permaneceu em função por 90 dias, promovendo o adequado condicionamento e a modelagem dos tecidos gengivais ao redor do implante, com estabelecimento de um perfil de emergência estável e favorável à futura reabilitação.
Com o perfil tecidual já consolidado, foi realizado novo escaneamento intraoral para a confecção de um munhão personalizado em zircônia, fresado por tecnologia CAD/CAM a partir de um bloco monolítico de alta resistência. O design do munhão seguiu fielmente os contornos definidos pelo provisório, garantindo uma transição suave e anatômica entre o implante e a coroa. Este componente foi parafusado diretamente sobre o pilar Ideale, formando um conjunto protético estável, preciso e biologicamente compatível.
A superfície da porção transmucosa do munhão foi mantida sem glaze ou pigmentos, preservando apenas o polimento obtido pela fresagem. Esse acabamento resulta em uma superfície lisa, pura e biologicamente neutra — condição ideal para favorecer a biocompatibilidade da zircônia com os tecidos peri-implantares.
Estudos clínicos demonstram menor colonização bacteriana na zircônia em comparação ao titânio, além de melhor adesão epitelial e menor resposta inflamatória, contribuindo para a manutenção de tecidos moles saudáveis e estáveis ao redor do componente.
Além de sua performance biológica, a zircônia oferece benefícios estéticos relevantes. Por ser um material cerâmico branco e translúcido, evita o sombreamento gengival em pacientes com biótipo fino, comum com pilares metálicos. Essa característica, somada à possibilidade de fresagem personalizada que respeita integralmente a anatomia gengival já condicionada, garante suporte ideal às papilas, preenchimento cervical adequado e transição visual natural entre gengiva e prótese.
Sob o ponto de vista mecânico, a zircônia utilizada apresenta alta resistência à fratura e à fadiga, além de baixa condutividade térmica e excelente estabilidade química. Tais propriedades permitem sua aplicação confiável mesmo em regiões de carga funcional moderada, como os incisivos, assegurando durabilidade a longo prazo. A personalização do munhão ainda favorece a higienização e estabilidade dos tecidos moles — elementos essenciais para o sucesso estético e funcional da reabilitação.
Com o ambiente biológico plenamente estabilizado, a fase protética foi concluída com a confecção da coroa definitiva em cerâmica de dissilicato de lítio, também fresada por tecnologia CAD/CAM. Esse material foi selecionado por sua excelência estética e resistência mecânica, permitindo reprodução fiel da coloração, brilho e translucidez dos dentes naturais, com adaptação marginal precisa.
A coroa foi cimentada sobre o munhão de zircônia, formando um conjunto totalmente cerâmico e livre de metal. A ausência de componentes metálicos permitiu posicionar a linha de cimentação em nível discretamente subgengival com total previsibilidade, sem risco de escurecimento da margem e favorecendo um selamento eficaz aliado a um contorno gengival harmônico.
O resultado final foi uma reabilitação estética de alta performance, em que cada etapa — do implante à coroa — foi conduzida de forma integrada, respeitando os princípios biológicos, preservando os tecidos moles e restabelecendo com precisão a forma, função e estética do dente perdido.
Considerações clínicas
A previsibilidade dos resultados em reabilitações com implantes imediatos, especialmente em regiões estéticas, depende de uma abordagem cuidadosamente planejada, que una técnica cirúrgica refinada à seleção criteriosa de biomateriais e componentes protéticos. No caso descrito, cada etapa foi pensada para garantir não apenas a saúde e estabilidade dos tecidos peri-implantares, mas também a excelência estética do resultado final.
Na fase cirúrgica, a associação entre o enxerto ósseo Extra Graft XG-13 e a membrana Cytoplast foi determinante para preservar o volume alveolar, controlar a cicatrização e criar um ambiente biologicamente favorável à osseointegração — mesmo diante da contraindicação para carga imediata. O Extra Graft XG-13, composto por 75% de hidroxiapatita bovina e 25% de colágeno tipo I, apresentou excelente osteocondução, estabilidade volumétrica e coesão, características essenciais para preservar o rebordo vestibular e favorecer a estética a longo prazo.
Já a membrana Cytoplast, confeccionada em PTFE de alta densidade (d-PTFE), reúne propriedades que a tornam uma aliada estratégica em procedimentos regenerativos onde o fechamento primário não é possível ou desejado. Seus poros ultrafinos (< 0,3 μm) impedem a penetração bacteriana mesmo quando a membrana está exposta à cavidade oral, proporcionando segurança durante o processo de cicatrização. Além disso, sua superfície texturizada Regentex, com microssulcos hexagonais, favorece a adesão dos tecidos periféricos e bloqueia a migração epitelial sobre o leito enxertado. Isso garante um selamento hermético e previsível do alvéolo, permitindo que a regeneração óssea ocorra sem interferência de tecidos moles. A facilidade de remoção ambulatorial da membrana também elimina a necessidade de nova cirurgia, otimizando o conforto do paciente e a eficiência clínica.
Na etapa protética, o uso de um provisório em PMMA parafusado sobre o pilar Ideale permitiu o condicionamento gengival ideal. Esse provisório guiou a modelagem dos tecidos moles e estabeleceu um perfil de emergência estável, essencial para a fase definitiva. Após o período de maturação tecidual, realizou-se o escaneamento digital e a confecção de um munhão personalizado em zircônia, fresado por tecnologia CAD/CAM a partir de bloco monolítico de alta resistência. A superfície gengival do munhão foi mantida sem glaze ou pigmentação, apenas polida, o que favorece a adesão epitelial, reduz a colonização bacteriana e promove maior estabilidade peri-implantar —características amplamente respaldadas por estudos clínicos.
O uso da zircônia como material do munhão também foi crucial do ponto de vista estético: sua coloração branca e translúcida evita escurecimento gengival, especialmente em pacientes com biótipo fino. A coroa definitiva, confeccionada em cerâmica de dissilicato de lítio e fresada via CAD/CAM, completou o conjunto protético totalmente cerâmico e biomimético. Esse material, amplamente reconhecido por sua resistência e propriedades ópticas, foi capaz de reproduzir com fidelidade a cor, o brilho e a translucidez dos dentes naturais. A linha de cimentação foi posicionada em nível discretamente subgengival, promovendo um selamento eficaz e respeitando os limites biológicos, o que favorece o contorno gengival e evita qualquer sombreamento indesejado.
O resultado clínico foi uma reabilitação unitária sobre implante com aparência natural, tecidos peri-implantares saudáveis e função plenamente restabelecida. A combinação entre biomateriais de alta performance, planejamento digital e técnica protética personalizada evidencia as vantagens dos componentes do sistema Implacil Osstem na Odontologia restauradora contemporânea, promovendo resultados previsíveis, estéticos e duradouros.
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