Na Implantodontia, um dos maiores desafios é a instalação de implantes dentários na região da pré-maxila, tanto em alvéolos frescos como em rebordos cicatrizados. Como discutido amplamente na literatura, o bom posicionamento tridimensional do implante é uma condição sine qua non para se alcançar o sucesso funcional e estético nessa região. Outro ponto abordado para o sucesso nessa região é a necessidade das próteses serem aparafusadas, evitando assim, a utilização de próteses cimentadas, onde a remoção do excesso de cimento é de extrema dificuldade e como relatado na literatura, esse excesso é o grande responsável pelas peri-implantites nessa região e pela falência estética dos casos em questão.
Diante disso, durante anos, a abordagem para a instalação de implantes nessa região com a possibilidade de aparafusamento da prótese sempre foi o “approach palatino”, o que possibilita que a emergência do canal do parafuso saia da região de cíngulo, não afetando a estética e a resistência do material cerâmico. Porém, conforme descrito na literatura, somente próximo de 14% dos casos permitem um approach palatino que não interfira na anatomia do dente implantado, evitando assim, o sobrecontorno palatino, o qual causa um grande desconforto aos pacientes.
No intuito de solucionar esse obstáculo desconfortável ao paciente, a literatura tem debatido amplamente a mudança do posicionamento do implante nessa região, sugerindo que o implante seja instalado na melhor relação dentoalveolar, devendo possuir pelo menos 2,0 mm de espaço entre o implante e o osso vestibular e, no mínimo, 1,0 mm entre o implante e o osso palatino. Essa nova postura no planejamento se deve ao avanço do planejamento digital através de softwares mais modernos, que planejam tanto o posicionamento do implante, bem como o pilar protético, evitando assim, o grande número de fenestrações apicais na tábua vestibular na inserção dos implantes devido ao eixo de inserção seguido pelo approach palatino, principalmente por causa da inclinação anatômica da pré-maxila.
Tecnologias recentemente desenvolvidas permitem restaurações aparafusadas através da utilização de pilares angulados, proporcionando a realização de uma coroa aparafusada e eliminando o risco de peri-implantite relacionada ao cimento, respeitando a angulação natural dos dentes da pré-maxila e os desafios comuns da área estética.
Seguindo essa tendência, em 2019, a Implacil De Bortoli lançou uma linha de pilares híbridos, que tanto podem ser utilizados em próteses cimentadas como em próteses parafusadas unitárias, fazendo uso de pilares retos ou pilares angulados, na angulação de 17° ou 30°. Essa linha de pilares, denominada Ideale, vem ao encontro dos trabalhos mais modernos da literatura mundial, que sugerem a utilização de implantes com inclinação coronária ou a utilização de pilares angulados.
O caso clínico a seguir irá descrever o sucesso dessa nova realidade. Paciente J.C., de 65 anos de idade, do sexo masculino, compareceu em minha clínica com o elemento 13 fraturado (Figura 1). Após análise criteriosa da tomografia, foi planejada a exodontia e a instalação imediata do implante seguindo as novas tendências no posicionamento tridimensional, isto é, a melhor posição no rebordo na relação dento alveolar (Figura 2). Foi realizada a terapia medicamentosa com a administração de Amoxicilina 500 mg, de oito em oito horas durante sete dias, iniciando um dia antes do procedimento, e o uso de anti-inflamatório após a cirurgia, durante três dias. A exodontia foi realizada de forma atraumática, como sugerido na literarura (Figuras 3 e 4) e foi realizada a fresagem para a instalação de um implante Due Cone Implacil De Bortoli (conexão morse) de 3.5 x 13 mm, que foi estabilizado a 46 Ncm (Figuras 5, 6 e 7). Após a instalação, o gap foi preenchido com biomaterial, um cicatrizador de 5.5 X 3.5 mm (diâmetro/altura) foi instalado e o tecido foi suturado ao seu redor, protegendo assim o biomaterial (Figura 8).
Após 90 dias da instalação do implante, o cicatrizador foi removido e fazendo uso do Kit de Seleção de Componentes da mesma empresa, foi selecionado um pilar Ideale angulado de 3.3 X 4.0 X 1.5 de 17°. Essas mediadas se referem ao diâmetro, altura protética, altura do transmucoso e ao ângulo do pilar, respectivamente (Figuras 9, 10 e 11).
Uma vez selecionado, o pilar Ideale foi instalado e torqueado a 20 Ncm como recomendado pelo fabricante (Figura 12). Nessa mesma consulta foi colocado sobre o pilar Ideale um transferente digital referente ao mesmo e as arcadas foram escaneadas (Figuras 13, 14 e 15).
O resultado do escaneamento foi enviado para o laboratório onde foi realizado o projeto e foi feita a fresagem de uma coroa aparafusada em zircônia MultiLayer. A mesma foi maquiada na cor A 3.5 (Figuras 16, 17, 18 e 19).
Na segunda consulta, a prótese parafusada metalfree foi instalada e aparafusada a 10 Ncm como recomendado pela fabricante. O orifício de acesso ao parafuso foi restaurado com resina fotopolimerizável e uma radiografia final foi realizada (Figuras 20, 21, 22 e 23).
O caso foi concluído com sucesso seguindo os protocolos relatados nos trabalhos científicos mais recentes, onde para se conseguir a melhor ancoragem óssea nos implantes imediatos na região de pré-maxila para reabilitar com uma prótese aparafusada, se faz necessária a utilização de um pilar angulado.
REFERÊNCIAS
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