Implante imediato com preservação e regeneração alveolar: relato de caso

Matéria da Semana 23-10-23 - Rodrigo Cunha e Ronaldo Fabiano

Implante imediato com preservação e regeneração alveolar: relato de caso

Por Ronaldo Fabiano, Luís Felipe Guilardi e Rodrigo Moreira da Cunha

Caso clínico

Paciente jovem (32 anos) apresentou-se na clínica com o primeiro pré-molar superior direito com fratura corono-radicular e grande lesão periapical com rompimento da cortical vestibular, sendo, portanto, indicada a extração dentária. Dada a idade do paciente e a importância de se manter a estética e a função na região, optou-se pela instalação imediata de implante dentário associada à preservação e regeneração alveolar.

Após a extração dentária, o osso alveolar de sustentação começa a passar por um processo natural de remodelação e cicatrização, o qual é mais intenso nos primeiros meses. Neste caso, a preservação alveolar em conjunto com a regeneração óssea é indicada para que ocorra a correta manutenção do arcabouço/estrutura de sustentação remanescente após a extração dentária. Isso se dá através da manutenção da estabilidade da estrutura óssea, preservação do contorno e da densidade do osso alveolar. Sem esta abordagem, a perda de estrutura óssea e a ocorrência de deiscência gengival seria inevitável, causando um prejuízo estético e funcional para o paciente.

Sequência clínica

Após o diagnóstico e planejamento, baseados em exames radiográficos e clínicos (Figuras 1 e 2), a primeira etapa foi realizar uma extração dentária atraumática (secção dentária e utilização de periótomo fino e flexível), visando a preservação completa do periodonto de sustentação. Após a curetagem para remoção total da lesão periapical, fez-se a instalação do implante alcançando-se um ótimo travamento inicial e um correto posicionamento ápico/coronal e tridimensional (Figura 3). O Túnel Check, da Implacil De Bortoli (Figura 4), foi utilizado para avaliar o posicionamento tridimensional do implante e selecionar a altura correta do cicatrizador – optou-se por um cicatrizador ao invés do parafuso de cobertura do implante para que não houvesse formação óssea sobre o parafuso, o que tornaria a reabertura muito mais traumática. Após, a membrana Cytoplast TXT 200 Singles (Implacil De Bortoli) foi personalizada e instalada inicialmente na face palatina (Figura 5 – ela não deve ficar tocando nas faces proximais dos dentes vizinhos), seguido do preenchimento alveolar (Figura 6) com substituto ósseo natural contendo 25% de colágeno, o Extra Graft XG-13 (Implacil De Bortoli). Por conter colágeno na sua composição, o Extra Graft XG-13 não fica liberando as partículas ósseas ao longo do processo de osteointegração.

Finalizada a compactação do enxerto ósseo no sítio alveolar (Figura 7), o alvéolo foi selado com a membrana (Figura 7) e realizou-se a sutura com o fio Cytoplast, da Implacil De Bortoli (Figura 9), que é monofilamentar e feito em PTFE (Politetrafluoretileno). Essas características resultam em menor agregação bacteriana e em certa elasticidade do fio, o que reduz a chance de deiscência da sutura, uma vez que ele acompanha o deslocamento do tecido durante a inflamação e aumento de volume. Quatro semanas após a cirurgia, a sutura e a membrana foram removidas (Figuras 10 e 11). Como a membrana não é absorvível, ela deve ser removida entre 21 e 28 dias após a sua instalação. Após o período de 90 dias, realizou-se uma nova tomografia para se avaliar o correto posicionamento tridimensional do implante e a osteointegração (Figura 14).

Constatada a perfeita osteointegração, realizou-se a reabertura do implante e instalação do dente provisório (Figuras 12 e 13) visando o condicionamento gengival para formação e maturação correta do perfil gengival previamente à confecção da coroa definitiva.

As imagens abaixo ilustram a sequência clínica utilizada neste caso, bem como os materiais utilizados para otimizar a preservação alveolar.

Figura 1 – Caso inicial – dente 14 com fratura coronária. Vista oclusal e vista lateral.
Figura 2 – Tomografia constatando lesão periapical (círculo) e perda da crista óssea na região mesial do dente 14 (seta).
Figura 3 – Instalação do implante Maestro (4.0 x 11 mm – Implacil De Bortoli).
Figura 4 – Seleção e instalação do cicatrizador.
Figura 5 – Personalização e instalação da barreira regenerativa não absorvível Cytoplast TXT 200 Singles (Implacil De Bortoli).
Figura 6 – Preenchimento alveolar com substituto ósseo natural contendo 25% de colágeno (Extra Graft XG-13, Implacil De Bortoli – une as propriedades osteocondutoras da hidroxiapatita bovina e do colágeno do tipo I).
Figura 7 – Compactação do enxerto ósseo no sítio alveolar.
Figura 8 – Selamento alveolar com a membrana Cytoplast (Implacil De Bortoli).
Figura 9 – Sutura com fio Cytoplast (Implacil De Bortoli).
Figura 10 – Pós-operatório de 28 dias.
Figura 11 – Remoção da sutura e da membrana Cytoplast com 28 dias de pós-operatório.
Figura 12 – Momento da reabertura do implante (90 dias após a instalação do implante), onde pode-se observar grande volume de tecido queratinizado.
Figura 13 – Instalação de coroa provisória no momento da reabertura do implante.
Figura 14 – Imagens tomográficas comparativas da condição inicial (A) e após o período de osteointegração do implante (B).

Considerações finais

O presente caso clínico mostra que essas abordagens combinadas – extração atraumática, implante imediato, enxerto e preservação alveolar – desempenham um papel fundamental na reabilitação oral, permitindo a substituição de dentes perdidos por implantes dentários com resultados estéticos e funcionais bastante satisfatórios e previsíveis.

REFERÊNCIAS:

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