Por Marco Bianchini
Um artigo do nosso grupo de trabalho e pesquisas foi o mais citado no periódico em que ele foi publicado, o renomado Journal of Periodontology. Este periódico tem um fator de impacto de 4.2, considerado bem alto para a nossa área.
O artigo em questão tem como título “Prevalence, risk indicators, and clinical characteristics of peri-implant mucositis and peri-implantitis for an internal conical connection implant system: A multicenter cross-sectional study.’’, e tem como autores: Apaza-Bedoya K, Galarraga-Vinueza ME, Barbosa Correa B, Schwarz F, Bianchini MA, Benfatti C.
O estudo avaliou uma série de fatores relacionados com mucosite e peri-implantite. Alguns itens exigem uma leitura detalhada, a fim de não se interpretar os dados erroneamente. Na essência, esta pesquisa observou o comportamento peri-implantar de 99 pacientes com 266 implantes Cone Morse da Implacil (De Bortoli na época). A média do tempo que os implantes estavam em boca foi de mais de 30 meses. Os achados epidemiológicos, a nível dos pacientes, demonstraram uma prevalência de peri-implantite de 15,15%, o que corrobora com outros artigos que avaliaram outras marcas mundialmente conhecidas.
A pesquisa mostrou ainda a associação da peri-implantite com alguns fatores de ordem geral, como a osteoporose e a periodontite prévia e também fatores locais, como próteses cimentadas, próteses de arco parcial e/ou total, diâmetro do implante maior do que 3.75, altura transmucosa do pilar inferior a 1,5mm e dificuldade de higiene.
Quando dizemos que existe uma associação da doença peri-implantar com estes fatores, significa dizer que pacientes com osteoporose e periodontite prévia têm mais chances de desenvolver a peri-implantite. Da mesma forma, implantes com diâmetros maiores do que 3,75, com altura de cinta menor do que 1,5mm, próteses fixas parciais e totais e pacientes com dificuldade de higiene também tem uma maior probabilidade de ter a doença. A figura 2 ilustra algumas das conclusões que estão no artigo.
Embora estes resultados nos ofereçam muitos caminhos para se prevenir as alterações peri-implantares, a conclusão mais importante deste estudo é a de que os implantes Cone Morse têm níveis de peri-implantite semelhantes aos implantes de conexão hexagonal interna ou externa. Isto nos leva ao entendimento de que a peri-implantite segue aparecendo muito mais quando a higiene é dificultada (próteses fixas e destreza dos pacientes) ou quando o espaço biológico peri-implantar é invadido por implantes e pilares muito largos com cintas metálicas reduzidas, sem levar muito em consideração o tipo de plataforma do implante.
A médio prazo, o artigo concluiu que as doenças peri-implantares foram correlacionadas com fatores inerentes às condições do paciente, plano de tratamento pré-cirúrgico (iatrogênicas) e cuidados de manutenção da higiene. O conhecimento dos fatores mencionados e das características clínicas apresentadas no artigo podem ser cruciais para a prevenção das doenças peri-implantares e o estabelecimento de um prognóstico superior da terapia de implantes.
Este artigo que avaliou implantes Cone Morse seguiu a mesma linha de uma outra publicação da nossa equipe em 2016, que avaliou a peri-implantite em 916 implantes de conexão hexagonal externa da Implacil (De Bortoli na época), cujo título é “Risk indicators for Peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants.”, de Dalago HR, Shuldt Filho G, Rodrigues M, Renvert S e Bianchini MA. Os resultados desta publicação demonstraram índices baixos de peri-implantite e um excelente comportamento dos implantes com uma taxa de sobrevivência de 98%.
Quando um artigo é apontado como o mais citado, significa dizer que outros autores deste mesmo periódico estão citando o artigo como referência conceitual sobre o tema abordado, no caso: mucosite e peri-implantite em implantes Cone Morse. O número de citações, muitas vezes, é mais importante do que a própria publicação, pois mostra o nível de relevância do artigo frente a outras publicações. Isso sem falar nas conclusões e resultados que vão direcionando a comunidade científica para os conceitos postulados no referido artigo.
Por fim, vale salientar aqui a importância de se realizar pesquisas sérias que possam causar algum impacto na comunidade científica mundial. Ter um artigo que avaliou implantes nacionais como o mais citado em um periódico com fator de impacto 4.2, engrandece a Implantodontia brasileira. O orgulho aumenta mais ainda quando observamos que nenhuma característica específica do fabricante teve alguma influência no aumento da prevalência, tanto da mucosite como da peri-implantite, seguindo a mesma linha de resultados já publicados em 2016 com implantes de conexão hexagonal externa.
Dados como estes aumentam a segurança dos implantodontistas e dos pacientes para seguirem utilizando estes implantes.
Outros artigos para leitura: