Principais considerações sobre o uso de pilares do tipo UCLA

Matéria da semana 18-12-23

Principais considerações sobre o uso de pilares do tipo UCLA

Por Ricardo Zavanelli

A finalização dos casos de prótese sobre implantes passa necessariamente pela escolha de um pilar intermediário entre o implante e a prótese (coroa). Em muitas vezes, o profissional fica em dúvida sobre como proceder em relação à sua escolha, indicações e técnicas de uso quanto ao passo a passo desses componentes. Assim, este artigo visa dar subsídios aos profissionais quanto à essa seleção e destacar a versatilidade do componente UCLA da Implacil De Bortoli.

Conceitualmente falando, temos que pilares intermediários são os componentes utilizados para fazer a ligação entre o implante e a prótese/coroa, representando de forma análoga o núcleo de uma prótese fixa convencional.

Figura 1 – Esquema representativo dos componentes de uma PSI – prótese sobre implante. Em A, temos os componentes separados e em B, temos os conjuntos conectados e integrados.

Assim, os pilares podem ser chamados de pilares intermediários, apenas pilares ou apenas intermediários, munhão, “abutment” ou transmucoso, e qualquer um dos nomes acima são sinônimos e dizem respeito ao mesmo componente. Evidentemente,  cada pilar tem um nome próprio que o caracteriza, assim como temos o nome do pilar Ideale, que é um pilar intermediário indicado para prótese sobre implantes (PSI) unitária cimentada ou unitária parafusada.

Outro fato que merece ser destacado é a forma de confecção das próteses sobre implantes, se direto na cabeça do implante ou se usando um pilar intermediário e parafusando ou cimentando a PSI sobre o pilar. Dessa forma, a primeira diferença entre o pilar UCLA e os demais pilares se refere à forma de confecção da PSI, uma direto sobre a cabeça do implante utilizando-se do pilar UCLA (assemelhando-se a um “pivot” cuja coroa está integrada ao núcleo-pino em um único sistema pela ausência de espaço interoclusal), e a outra forma em que o profissional fará uso do pilar e sobre este teremos uma prótese que será cimentada ou parafusada, vide imagens da Figura 2 (Zavanelli et al., 2003; Zavanelli et al., 2011).

Figura 2 – Em A, esquema representativo de uma PSI confeccionada direto na cabeça do implante, semelhante à um antigo “pivot”, cujo núcleo está integrado na coroa sem um intermediário – característica de uma PSI com componente UCLA calcinável. Em B, esquema representativo de uma PSI confeccionada sobre um pilar intermediário, característica de uma PSI com componente pré-fabricado e não calcinável.

Essa forma de confecção da PSI, direto na cabeça do implante com pilar UCLA ou sobre um pilar, tem suas indicações. No entanto, passa também pela escolha e preferência dos profissionais. Vale ressaltar a versatilidade desse componente UCLA, podendo ser utilizado em casos unitários ou múltiplos, cimentados ou parafusados e em implantes de conexão HE (Hexágono Externo), HI (Hexágono Interno) ou CM (Cone Morse).

Indicações dos pilares do tipo UCLA

Conceitualmente temos que os pilares UCLA são assim denominados pela derivação do termo em inglês de:
U – Universal; C – Castable: fundível ou calcinável; L – Long: longo ou comprido; A – Abutment: pilar intermediário.

Essa descrição pormenorizada foi relatada por LEWIS et al., em 1988, em seu artigo sobre o pilar UCLA, no qual discorreu sobre a versatilidade deste pilar, principalmente indicado nos casos de espaço interoclusal restrito, mas que também pode ser utilizado em situações de:

– implantes superficiais, ou sem tecido mole peri-implantar, ou seja, o implante está posicionado superficialmente no sentido ápico-coronal (está raso e sem tecido gengival);

– implantes mal posicionados, além de 30 graus;

– ausência de espaço interoclusal que caiba um pilar pré-fabricado;

– seguem o fluxo analógico de moldagem tradicional, envio do componente calcinável (UCLA) ao laboratório para enceramento e fundição, com posterior confecção de uma coroa metalocerâmica;

– atendimento mais agilizado, considerando que faremos apenas a remoção do cicatrizador, instalação do transferente na cabeça do implante e moldagem analógica sem a necessidade de escolha de pilar específico e confecção de restauração provisório, otimizando o atendimento clínico;

– alguns profissionais acabam indicando o uso dos pilares do tipo UCLA como forma de diminuir seus custos.

Esse pilar UCLA é bastante versátil, porém deve-se ter extremo cuidado, pois poderá ocorrer falhas durante o processo de fundição e causar desajuste ou desadaptação da prótese, o que pode gerar perda óssea ao redor do implante. Assim, a principal característica do pilar UCLA é de ser usado pelo fluxo analógico ou convencional pelo método de fundição, ou seja, é um componente de plástico calcinável e que irá se transformar em metal pelo método de fundição ou sobre fundição caso o componente UCLA tenha a base pré-fabricada de metal.

Outro inconveniente que pode ocorrer com o uso dos pilares UCLA é a soltura ou afrouxamento dos parafusos de fixação desse pilar. Assim sendo, seguir o torque recomendado pela fabricante é de suma importância para prevenir essa possível intercorrência (Lewis et al., 1992).

Vale ressaltar também que os pilares do tipo UCLA podem apresentar o dispositivo antirrotacional indicado para casos de coroas unitárias ou dispositivo sem antirrotacional indicado aos casos de próteses múltiplas. Lembrando que a Implacil De Bortoli disponibiliza os componentes UCLA para as conexões de HE, HI e CM, como ilustrado na Figura 3.

Figura 3 – Imagem ilustrativa das três principais conexões da Implacil De Bortoli: HE, HI e CM com seus respectivos componentes UCLA com a base metálica indicados para sobrefundição.

Abaixo, temos as principais características do pilar UCLA:

– componente existente para as conexões de HE, HI e CM da Implacil De Bortoli;

– componente existente em três formas para HE/HI: plástico, plástico + base metal, metálico;

– componente existente em duas formas para CM: plástico + base metal e metálico;

– UCLA metálico – indicado para confecção de coroas provisórias;

– UCLA plástico – indicado para processo de fundição;

– UCLA plástico + base de metal – indicado para processo de sobrefundição;

– PSI feita direto na cabeça do implante;

– componente calcinável – requer fundição/sobrefundição em laboratório;

– passível de falhas de fundição;

– permite confecção de PSI cimentada ou parafusada;

– permite a confecção de PSI unitária ou múltipla (com ou sem dispositivo antirrotacional);

– pode-se moldar o implante de forma analógica ou digital com “scan body” do implante e análogo híbrido do implante, sem esquecer do componente com indexador;

– custo do pilar mais o processo de fundição/sobrefundição;

– normalmente, a partir do componente UCLA encerado será feito a fundição e confecção de uma coroa metalocerâmica.

A partir das características descritas acima sobre os pilares UCLA, vamos ilustrar uma sequência para o uso dos pilares do tipo UCLA, lembrando-se que podemos utilizar nas conexões de HE, HI e CM disponibilizadas pela empresa e de acordo com a preferência de cada profissional:

Figura 4 – Após remoção do cicatrizador com a chave hexagonal de 1.17mm, podemos colocar o transfer de moldeira aberta para moldagem de arrasto, nesse caso para o implante de conexão HE.
Figura 5 – Outra opção ao transfer de moldeira aberta é o transfer indicado para moldeira fechada ou moldagem de arrasto como ilustrado na imagem
Figura 6 – O profissional também poderá realizar a transferência de forma digital com o transfer da imagem, mas normalmente isso não se aplica, considerando-se que o fluxo dos pilares UCLA tem processo de enceramento analógico e fundição.
Figura 7 – Imagem ilustrativa das possibilidades para uso do pilar UCLA com o transfer de moldeira aberta, fechada e digital. Em qualquer um dos casos, deve-se colocar o análogo do implante no molde – modelo para a sequência do enceramento.
Figura 8 – O protético irá colocar o componente UCLA sobre o modelo de gesso obtido e realizar o enceramento como ilustrado na imagem ao lado, e neste caso, será uma prótese parafusada com UCLA.
Figura 9 – Aspecto da fundição do UCLA. Observe que o componente de plástico calcinável foi completamente transformado em estrutura unitária da PSI.
Figura 10 – Imagem ilustrativa do resumo de todo o processo. Componente UCLA calcinável de plástico com seu parafuso de fixação; UCLA encerado em verde e UCLA fundido em aspecto metálico.
Figura 11 – Aspecto de um componente UCLA encerado para ser um núcleo que será fundido e proverá uma PSI cimentada sobre esse componente que fica parafusado no implante.
Figura 12 – Aspecto do UCLA fundido: virou um núcleo semelhante a uma prótese fixa e que receberá uma coroa da preferência da profissional – metalocerâmica ou metal free.
Figura 13 – Coroa protética esculpida e fundida. Aspecto da coroa sobre o UCLA já fundido e parafusado no implante.
Figura 14 – Imagem ilustrativa do processo de enceramento e fundição do componente UCLA. Lembrando que a UCLA será parafusada no implante e depois a coroa será cimentada sobre a UCLA.

Considerações finais

O pilar UCLA é um componente do fluxo analógico calcinável de grande versatilidade, podendo ser utilizado em casos unitários, múltiplos, em PSI cimentadas ou parafusadas e de implantes de conexão de HE, HI e CM.

Talvez por conta dessa ampla gama de indicações, acaba tendo seu uso extrapolado e de difícil controle, principalmente pela possibilidade de problemas laboratoriais de falhas de fundição poderem ocorrer, além do problema mecânico de afrouxamento dos parafusos protéticos de fixação.

Dessa forma, recomendamos fortemente a observação dos torques de aperto dos parafusos preconizados pelo fabricante, que estabelece 30Ncm para os implantes de HE e HI e de 20Ncm para os implantes de conexão CM.

Vale ressaltar ainda a recomendação de que sempre que possível, utilizar os componentes do tipo UCLA com a base de metal, diminuindo, dessa forma, a possibilidade de desajustes de adaptação e falhas na fundição quanto a esse quesito.

REFERÊNCIAS

1- Bernauer AS, Zitzmann NU, Joda T. The Complete Digital Workflow in Fixed Prosthodontics Updated: A Systematic Review. Healthcare, 11 (679): 1-15, 2023.

2- Lewis SG, Beumer J3rd, Hornburg W, Moy P. The UCLA abutment. Int J Oral Maxillofac Implants 1988; 3:183-9.

3- Lewis SG, Llamas D, Avera S. The UCLA abutment: a four-year review. Journal Prosthetic Dent 1992; 67(4):509-15.

4- Moreno ALM, Santos MD, Bertoz APM, Goiato MC. Abutment on Titanium-Base Hybrid Implant: A Literature Review. Eur J Dent. 2023 May; 17(2): 261–269.

5- Thobity AMAl, Titanium Base Abutments in Implant Prosthodontics: A Literature Review. European Journal of Dentistry 16(S 06) Nov 2021.

6- Zavanelli RA, Magalhães JB, Cardoso LC, Zavanelli AC. Sistemas de retenção para sobredentadura implanto retida: discussão e aplicação clínica. Prosthesis Laboratory in Science. 2011; 1(14-21).

7- Zavanelli RA, Guilherme AS, Melo M, Henriques GEP, Mesquita MF. Sobredentadura dento-retida: relato de caso. Robrac. 2003; 12 (60-65).

8- Zavanelli RA, Zavanelli AC, Santos LAS, Critérios para a seleção do sistema de retenção na reabilitação protética sobre implantes: prótese cimentada x parafusada. Arch Health Invest (2017) 6(12):586-592.