Reabilitação oral pós-traumática com implantes unitários em região estética.

Matéria da semana - Thayane Furtado

Reabilitação oral pós-traumática com implantes unitários em região estética.

Por Thayane Furtado

Introdução

Símbolo de beleza e bem-estar na sociedade moderna, o sorriso desempenha um papel importante também na expressão, aparência, comunicação social e autoestima dos pacientes. Grande parte dessa atribuição está associada aos dentes anteriores, então os traumas dentais que atingem de 12 a 20% da população adulta jovem acarretam prejuízos estéticos e funcionais, impactando diretamente a fala, a mastigação e a confiança social. Em detrimento disso, o planejamento do tratamento muitas vezes pode estar atrelado a uma abordagem cirúrgica rápida, minimamente invasiva, que tem como finalidade preservar a integridade dos tecidos, promover a saúde, atrelada a estética e conforto do paciente. Nessas situações, o implante dentário imediato surge como uma alternativa viável e eficaz.

O implante imediato, definido como a colocação do implante em alvéolo fresco logo após a extração, oferece uma série de benefícios clínicos. Permite a preservação da arquitetura óssea e reduz o tempo de tratamento e o número de intervenções. Portanto, permite a reabilitação estética e funcional mais rápida. Entretanto, essa técnica requer um planejamento criterioso, uma vez que está associada a desafios como a preservação do volume ósseo e do tecido mole ao redor do implante, para então dispor de técnicas como as regenerações guiadas.

Como mencionado, a regeneração óssea guiada (ROG) e a regeneração tecidual guiada (RTG) são frequentemente indicadas para otimizar os resultados estéticos e funcionais em implantes imediatos. Essas técnicas utilizam biomateriais, como membranas e enxertos, que auxiliam na regeneração dos tecidos ao impedir a invasão de células indesejadas no leito ósseo e promover a cicatrização adequada. A ROG é particularmente indicada em casos onde há perda óssea significativa, enquanto a RTG é fundamental para a preservação e regeneração dos tecidos moles ao redor do implante, garantindo resultados estéticos satisfatórios.

O caso relatado neste trabalho envolve a colocação de implantes imediatos nos incisivos centrais superiores, decorrente de um trauma que resultou na necessidade de extração do dente. A fim de garantir a estabilidade do implante e otimizar os resultados estéticos, foram utilizadas as técnicas de RTG e ROG. Este relato visa demonstrar a relevância dessas abordagens para o sucesso clínico em casos de trauma dentário na região anterior, destacando os principais aspectos do planejamento cirúrgico e execução.

Relato de caso

Paciente jovem, 25 anos, do sexo masculino, após um acidente automobilístico, apresentou trauma nos incisivos centrais superiores. Clinicamente era observado a fratura coronária do dente 11, e o 21 apresentava uma delgada camada de gengiva queratinizada, já associada a retração gengival e a hipótese de perda óssea vestibular. Foi realizada a tomografia computadorizada que corroborou os achados clínicos e constatou uma fratura horizontal.

As etapas preliminares, como anamnese, exame clínico intra e extraoral não apontaram nenhum outro achado relevante. Foi preconizado no plano de tratamento a exodontia do 11 e do 12 devido à fratura horizontal evidenciada na tomografia computadorizada e os implantes imediatos, seguido de ROG e RTG. As etapas protéticas estavam associadas às próteses provisórias e por fim, as coroas unitárias sobre implante.

Inicialmente, ao exame clínico intraoral, é possível notar a fratura coronária no dente 11 e a recessão gengival do dente 21 associada a perda óssea vestibular.

Figura 1 – Aspecto clínico inicial.
Figura 2 – Plano transversal da TC.

A primeira abordagem clínica envolveu o escaneamento intraoral para a confecção de uma guia cirúrgica. Após todo o planejamento por uma empresa especializada, foram realizadas as exodontias por meio de cirurgia minimamente invasiva para a preservação dos tecidos.

Figura 3 – Em A, os alvéolos pós-extração; em B, o pós-cirúrgico imediato e em C, os dentes 11 e 21.

Após a curetagem dos alvéolos, foi posicionada a guia cirúrgica para a instalação dos implantes da Implacil De Bortoli. Os implantes utilizados foram o Cone Morse Ø3.5×13. Conforme o protocolo, foram usadas as fresas tronco-cônica de 3.0mm e 3.5mm e, em seguida, instalados os implantes.

Figura 4 – Em A, temos o posicionamento da guia cirúrgica; em B, vemos o uso da fresa tronco-cônica de 3.5mm; em C, a instalação dos implantes, e em D, o pós-instalação imediato.

Foi colocado o guide e realizada a ROG por meio do Extra Graft XG-13 com o objetivo de preenchimento de GAPs. Este é um biomaterial bovino, composto por 25% de colágeno e 75% de hidroxiapatita.

A fim de verificar a estabilidade do implante, bem como o contato osso e implante para a colocação de um provisório imediato, foi utilizado o Osstell Beacon, entretanto, o mesmo acusou baixo ISQ. Portanto, não foi colocado um provisório imediato sobre implante, mas um provisório removível.

Visando a preservação alveolar e a regeneração tecidual guiada, guiando os tecidos moles e tecido ósseo a ser formado, foi feita a colocação da membrana de PTFE, neste caso a Cytoplast. Essa membrana não-reabsorvível possui poros menores (0.3 μm), que permitem a adesão do tecido mole, mas não o crescimento através dela. Além disso, apresentam a superfície Regentex (sulcos hexagonais), que impede a entrada de células do tecido gengival e sua rápida migração para o defeito, permitindo que o osso alveolar se regenere. Durante a cicatrização, uma parte do tecido gengival se adere à superfície texturizada para ancorar o tecido sobre a barreira, prevenindo assim a deiscência ou a abertura do tecido que cobre o material. Seguido a isso, foi realizada a sutura com fio de PTFE que possui alta tenacidade, alta elasticidade e não dilacera os tecidos.

Figura 5 – Em A, o preenchimento de todo o alvéolo com Extra Graft XG-13; em B, a colocação da membrana Cytoplast; em C, a sutura com fio PTFE, e em D, a prótese provisória em posição.

A próxima etapa foi a remoção de sutura com sete dias e 21 dias após a cirurgia com a remoção da Cytoplast. É possível verificar a placa bacteriana sobre a membrana, mas ao removê-la observa-se a formação de um tecido inerente à formação óssea e, em função do atrito, da exposição ao meio bucal, há a produção de queratina.  

Figura 6: Em A, sete dias de pós-operatório; em B, 21 dias de pós-operatório, e em C, o condicionamento do tecido peri-implantar após 21 dias.

Posteriormente, com o implante osseointegrado, foi realizada a reabertura e captura de coroas provisórias fresadas. Após três meses da cirurgia, a situação clínica é favorável com a manutenção do arcabouço dos tecidos peri-implantares e a quantidade de tecido queratinizado dispensa a enxertia de tecido mole. É válido ressaltar que todo esse tecido queratinizado foi conquistado pela Cytoplas® combinada com o fenótipo gengival espesso do paciente.

Figura 7 – Em A, a situação clínica após três meses; em B, a captura do provisório, em C, o posicionamento do transfer digital.

Após a instalação do provisório observa-se um perfil de emergência satisfatório, o que permite realizar o escaneamento digital para a confecção das coroas protéticas finais. Após o CAM, obtiveram-se as coroas de zircônia monolíticas.

Figura 8: Em A, o perfil de emergência conseguido pela prótese provisória, e em B, as coroas de zircônia monolítica.

Posteriormente, foram realizadas as etapas clínicas com a instalação das coroas de zircônia monolíticas aparafusadas sobre o implante.

Figura 9 – Aspecto clínico final.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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