Por Ricardo Zavanelli
Introdução
O fluxo digital aplicado à Odontologia tem evoluído a cada dia e facilitado a rotina dos profissionais que atuam na reabilitação bucal com implantes e próteses sobre implantes, possibilitando um atendimento mais assertivo e confortável aos pacientes.
Nesse sentido, temos CAI, CAD e CAM como as principais siglas envolvidas no fluxo digital. A origem destas siglas deriva dos termos em inglês:
– “computer aided inspection” para CAI, ou aquisição da imagem 3D ou arquivos do tipo STL = relacionadas com o escaneamento das arcadas contendo dentes, implantes e ou rebordo alveolar;
– “computer aided design” para CAD, ou desenho da peça protética ou infraestrutura = relacionados com o desenho em programa de computador da peça indireta sobre o rebordo alveolar, dente ou implante;
– “computer aided machined” para CAM = materialização do desenho executado no software por meio de fresagem ou por meio de impressão 3D. Esses três termos podem ser resumidos na imagem abaixo:
Assim sendo, a compreensão desses termos é de fundamental importância para entendermos todos o processos do fluxo digital, já que o profissional poderá transitar nessas três siglas, atuando de forma totalmente digital ou de forma semi-digital num fluxo de atendimento misto, que mistura uma atuação analógica e digital. Por exemplo, em casos onde o profissional não tem scanner e ainda realiza a moldagem e no laboratório haverá a digitalização do processo.
Ainda no fluxo totalmente digital, os profissionais podem atuar de duas formas:
– IN LAB: o profissional tem o equipamento de escaneamento e envia os trabalhos ao laboratório para que esse execute a fase de desenho e manufatura das peças protéticas;
– CHAIR SIDE: o profissional possui todos os equipamentos – de escaneamento, desenho e manufatura e acaba executando tudo ao lado de sua cadeira odontológica.
Dessa forma, conhecendo essas três principais siglas, vamos aprofundar no tema com uma descrição mais pormenorizada de cada uma delas.
CAI – COMPUTER AIDED INSPECTION – Aquisição da imagem
O termo CAI deriva do inglês e significa inspeção assistida pelo computador e está relacionado com a aquisição da imagem, que é feita em um equipamento de escaneamento intraoral ou por um scanner de bancada (cujo laboratório é responsável por essa etapa). O produto do escaneamento é um arquivo virtual com a terminação .STL (arquivo virtual sem cor) ou .PLY (arquivo virtual colorido), ou outro tipo de terminação. Esse arquivo 3D obtido é encaminhado a um software ou programa de desenho, normalmente um programa chamado Exocad, em que o profissional irá receber o arquivo virtual 3D e trabalhar no desenho da peça protética, para em seguida materializar esse desenho por meio de uma fresagem (técnica subtrativa) ou por impressão 3D (técnica aditiva).
Existem inúmeros equipamentos de escaneamento intraoral, mas podemos destacar dois: DEXIS e TRIOS, que são equipamentos portáteis ligados normalmente a um notebook preparado para receber e rodar com fluidez a leitura das arcadas como nas imagens abaixo.
Da mesma forma que ocorreu nos processos analógicos de moldagem, todos os profissionais passaram por uma curva de aprendizado para conseguir realizar e obter um molde adequado ao vazamento, um perfeito afastamento gengival, entre outros aspectos. E não é diferente com o processo de escaneamento, pois essa curva de crescimento também é requerida, mas alguns pontos podem ser destacados para melhorar a obtenção de um arquivo virtual:
1- Procurar manter um campo operatório seco;
2- Apagar a luz do refletor para não interferir com a luz do scanner;
3- Procurar manter uma velocidade linear de escaneamento;
4- Ter uma referência para voltar o equipamento, como por exemplo, a superfície oclusal, que tem muitas características que permite o reconhecimento e volta do escaneamento;
5- Procure ter uma visão indireta olhando para a tela do computador durante o procedimento;
6- Não se desespere, pois não é uma corrida. Mantenha uma proximidade com a superfície a ser escaneada.
7- Tenha uma estratégia de escaneamento. Por exemplo, iniciar pela face oclusal criando um trilho de escaneamento, depois voltando pela superfície lingual ou palatina e por último, capturando a superfície vestibular;
8- O treinamento trará ao profissional uma experiência melhor e facilitará o processo de aquisição da imagem.
CAD – COMPUTER AIDED DESIGN – Desenho da peça protética
O termo CAD deriva do inglês e significa desenho assistido pelo computador e está relacionado projeto ou desenho das peças protéticas indiretas, que é feita em softwares específicos como os programas Exocad, IN LAB e MESHMIXER, entre outros. Esse desenho talvez seja a fase do processo digital que demanda mais tempo e dedicação, pois o cadista deverá respeitar os espaços adequados que cada material restaurador exige, desenhando uma estrutura estética caracterizada, com rigidez adequada e que apresente resistência em uso na boca do paciente.
CAM – COMPUTER AIDED MANUFACTURING – Manufatura da peça, obtenção da peça ou materialização da peça protética
O termo CAM deriva do inglês e significa manufatura assistida pelo computador e está relacionado com a materialização ou obtenção das peças protéticas indiretas, que é feita de duas formas distintas: por impressão 3D ou fresagem, conforme ilustrado na Figura 4.
O equipamento de fresagem utiliza uma tecnologia de confecção das peças por subtração, ou seja, um bloco pré-sinterizado nos casos dos materiais à base de zircônia ou pré-cristalizado nos casos dos materiais à base de dissilicato de lítio, que serão cortados, desgastados por moagem, mais a refrigeração, ou por fresagem à seco, para que a peça seja obtida. Em resumo, é um processo automatizado que subtrai material do bloco até que ele se transforme em um dente ou uma peça protética indireta. Talvez esse processo não seja sustentável do ponto de vista do meio ambiente, mas é muito utilizado até os dias de hoje pela qualidade da peça obtida e que apresenta excelente resistência e estética (Figura 5).
Já o equipamento de impressão 3D irá receber o arquivo STL ou similar e irá construí-lo por meio de camadas que serão sobrepostas umas às outras para criar o objeto ou peça protética indireta. Esse processo é mais sustentável do ponto de vista do meio ambiente, porém, as peças obtidas ainda apresentam menor resistência e estética para serem consideradas como peças protéticas definitivas (Figura 6).
Tanto as técnicas de fresagem, com seus blocos ou “bolachas”, e impressão, com suas diferentes resinas com e sem carga, são capazes de obter peças protéticas, inlays, onlays, overlays, lentes, facetas, coroas, peças sobre implantes, provisórios, cicatrizadores personalizados, guias cirúrgicas, modelos, placas, próteses parciais e próteses totais, além de atuarem na área de Ortodontia e Periodontia. Nesse cenário de tecnologia subtrativa e aditiva (Figura 7), quem ganha são os profissionais e os pacientes que irão se beneficiar com peças cada vez mais estéticas, resistentes e confeccionadas em um menor período de tempo, tirando o empirismo das técnicas analógicas “hand made” (feitas manualmente) que dependem e muito dos técnicos de laboratório para que sejam obtidas. Isso não quer dizer que não funcionam, mas sim, o fluxo digital tem maior previsibilidade e é menos dependente dos técnicos.
Conclusão
Diante do conteúdo apresentado, podemos concluir que:
a) a tecnologia CAI/CAD/CAM é uma excelente aliada dos profissionais e dos pacientes para a confecção de peças protéticas indiretas;
b) o equipamento de escaneamento intraoral (CAI) facilita a aquisição das imagens de forma assertiva e com mais conforto aos pacientes;
c) o sistema de desenho (CAD) traz inovação e tira completamente o empirismos dos processos tradicionais/analógicos do tipo “hand made”, proporcionando visualização das estruturas antes de serem confeccionadas;
d) o processo de manufatura (CAM) é capaz de produzir peças altamente estéticas e resistentes, quer seja por fresagem ou por impressão, guardadas evidentemente suas particularidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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5- Yueyi Tian, ChunXu Chen, Xiaotong Xu, Jiayin Wang, Xingyu Hou, Kelun Li, Xinyue Lu, HaoYu Shi, Eui-Seok Lee, Heng Bo Jiang. A Review of 3D Printing in Dentistry: Technologies, Affecting Factors, and Applications Scanning. 2021; 2021: 9950131. Published online 2021 Jul 17. doi: 10.1155/2021/9950131.
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