Marcelo Yoshimoto¹, Gilson Sakita²
1. Pós Doutorado em Biomateriais pelo CCTM/IPEN, Professor do Mestrado em Bioodontologia da UNIB, Professor Coordenador de cursos de Especialização em Implantodontia.
2. Mestre em Biodontologia, Especialista em Implantodontia, Professor do Curso de Especialização da UNIB.
Universidade Ibirapuera – Av. Interlagos, 1329 Chácara Flora, CEP 04661-000 email: marcelo.yoshimoto@gmail.com
Sinopse
Os implantes Odontológicos hoje constituem uma das primeiras opções em reabilitação oral em pacientes com diferentes graus de edentulismo. Os diferentes desenhos dos sistemas de implantes tentam sanar o maior número de situações clínicas, entretanto a utilização de implantes cônicos tem se apresentado como uma alternativa para várias condições ósseas, como os “splits de maxila” e também na lateralização do nervo alveolar inferior para a instalação de implantes, por oferecer uma melhor estabilidade primária e também porque o próprio perfil do implante facilita a sua instalação, mas, no caso da lateralização de nervo evitam a compressão do feixe vásculo nervoso diminuindo a possibilidade de dano neurossensor.
Unitermos: nervo mandibular, implantes dentários, parestesia.
Introdução
Os implantes cônicos têm sido indicados e utilizados para vários casos na Implantodontia. Na cirurgia de lateralização de nervo, especificamente é indicada sua utilização, pois seu perfil mais delgado tem uma acomodação melhor no tecido ósseo (figura 1) já exíguo em casos de atrofias severas da região posterior da mandíbula (Yoshimoto et al., 2011, Maluf et al., 2011 e Yoshimoto, 2013). Além disso, apresentam uma melhor estabilidade primária e na instalação imediata de implantes após a exodontia e em áreas de osso tipo IV (Alves & Neves, 2009). A estabilidade primária se apresenta como um indicativo para o sucesso da futura osteointegração em casos de carga imediata ou precoce (Dos Santos et al., 2009, Khavat et al., 2011 e Xiao et al., 2011).
Girard (1979) explica que os nervos podem ser tensionados em um limite de 20% até 30% quando ocorre o colapso total da estrutura nervosa. MOZSARY; SYERS, 1985 sugerem evitar a compressão do feixe vásculo-nervoso para evitar traumas; KAHNBERG; RIDELL, 1987, recomendam não estirar a estrutura do feixe vásculo-nervoso em demasia; KAN et al., 1997a infere em seu trabalho que qualquer lesão acima de 5% de estiramento no comprimento do nervo pode causar-lhe danos. NOCINI et al., 1999 relatam que o feixe nervoso não deve ser tracionado acima da média de 10% a 17% do seu comprimento para o nervo perder sua condição de condução nervosa ainda que temporariamente. POGREL; MAGHEN, 2001, são da mesma opinião de que a estrutura nervosa não deva ser tracionada acima de 10% em seu comprimento total; PELEG et al., 2002 corroboram com KAN et al., 1997a, no fato de que o feixe nervoso quando tracionado em dimensões inferiores a 5% do seu comprimento total, o nervo retorna à função em 4 a 6 semanas.
De acordo com Block et al., (1993) o dano ao nervo pode ser causado por rompimento dos axônios dentro do feixe nervoso ou por isquemia causada por compressão da “vasa nervorum”.
Segundo Krogh et al., (1994) os nervos periféricos não toleram compressão, alongamento e angulações bruscas.
Discussão
A lateralização de NAI é uma cirurgia que apresenta como grande temor para sua indicação e execução, a parestesia (Yoshimoto et al., 2011, Maluf et al., 2011 e Yoshimoto, 2013), causada pelo desenvolvimento de uma miniatura de síndrome de compartimento nos fascículos do nervo (Krogh et al., 1994).
A compressão e o estiramento do feixe nervoso devem a todo custo ser minimizadas para diminuir o dano e a consequente exacerbação da parestesia (Girard, 1979, MOZSARY; SYERS, 1985, KAHNBERG; RIDELL, 1987, KAN et al., 1997, NOCINI et al., 1999, POGREL; MAGHEN, 2001, PELEG et al., 2002).
Neste aspecto, os implantes de perfil cônico aparecem como um agente auxiliador em uma menor compressão do feixe nervoso (Yoshimoto et al., 2011, Maluf et al., 2011 e Yoshimoto, 2013).
Outras vantagens além de diminuir a compressão (fig.2 e 3) são a de aumentar a estabilidade primária e a de melhorar a relação biomecânica para os implantes em região posterior de mandíbula por meio de uma melhor utilização do corpo da mandíbula como base de estabilização dos implantes (Alves & Neves, 2009, Dos Santos et al., 2009, Khavat et al., 2011 e Xiao et al., 2011).
Certamente, outros fatores como um bom planejamento, utilização de piezocirurgia e laserterapia (Yoshimoto et al., 2011 e Yoshimoto, 2013) são de fundamental importância para o sucesso dos casos.
Conclusões
Conclui-se que a utilização de implantes cônicos são indicados em cirurgia de lateralização de nervo alveolar inferior, pois reduzem a compressão e o estiramento sobre o feixe vásculo-nervoso.
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Yoshimoto, Marcelo. Manual cirúrgico da lateralização do nervo alveolar inferior: conutas e cuidados. – 1 ed. São Paulo Ed. Santos, 2013.
Figuras: